CAMINHO



“E então, qual caminho será? ”. Perguntou-me ele, com as mãos sobre o volante me lançando seu olhar sedutor e esperançoso, o qual eu sabia que guardava uma grande armadilha, daquelas de que não conseguimos nos livrar tão cedo. Cerrei meus olhos na escuridão do carro e em silêncio pensei: se eu escolhesse o caminho da direita iria para casa, continuaria pura, mas insatisfeita, permaneceria curiosa e perturbada com as infinitas possibilidades. Se me decidisse pelo caminho da esquerda, iria navegar em águas profundas, das quais eu não sabia se retornaria viva, cometeria um pecado, amaria o homem de outra mulher e provavelmente me arrependeria disso. No entanto, mesmo ciente de todos esses motivos pelos quais eu deveria evitar a segunda opção, suspirei, virei o rosto na direção da janela e evitando encará-lo, respondi: “Quero passar mais tempo com você”. Não precisei explicar o que aquilo significava, pois, ele sabia que iriamos passar a noite, juntos, satisfazendo os desejos carnais um do outro, ignorando o mundo a nossa volta.

Embora fosse errado, eu não havia mentido, queria passar mais tempo em sua companhia, apreciar as horas e ignorar o tempo, queria ouvir ele tagarelar sobre os livros que estava lendo, cantar suas músicas favoritas, se gabar do seu intelecto e até mesmo tolerar as suas insinuações quanto a minha ignorância a respeito de política ou discernimento lógico.
Eu queria tudo dele. E, principalmente, eu o queria.

A medida que o carro avançava em direção ao motel, eu só conseguia imaginar uma coisa, o corpo esguio dele embaixo do chuveiro os filetes de água deslizando lentamente sobre a sua nudez, a sua tatuagem animalesca a mostra como se quisesse me devorar, os traços do rosto tão bem delineados, os seus olhos, a sua boca… Já conseguia sentir gosto do seu beijo, ele tocando a minha pele e alisando as minhas curvas, dizendo como sou linda e como eu o excito. Eu conseguia senti-lo antes mesmo de entrar em mim… E como se adivinhasse que eu estava no limite da loucura e do desejo, o veículo parou e o caminho chegou ao fim.

Por Jéssica Florentino

Resenha do livro "Quando o amor bater a sua porta, você vai deixá-lo entrar?", de Samanta Holtz


O livro “Quando amor bater a sua porta, você vai deixá-lo entrar?”, de Samanta Holtz trata da vida da escritora, Malu Rocha cujos vinte e nove anos lhe conferiram uma carreira consolidada como autora de romances. Entretanto, após uma entrevista perturbadora com uma jornalista, ela passa a buscar uma definição para esse sentimento que tanto retrata em seus livros, assim, Malu conhece um homem que se encontra no estado de amnésia devido a um acidente de carro e bate na sua porta em busca de ajuda. Todavia, esse homem não carrega só o mistério da sua origem como também uma intrigante coincidência — ele tem o mesmo nome de um dos personagens do livro que Malu está escrevendo — Luiz Otávio.

Confesso que nunca havia lido um livro de Samanta Holtz, mas a partir desse, com certeza irei ler outros, a autora consegue brincar com os elementos literários, apesar de se tratar de um romance do tipo best seller, nos transportando para outro nível de leitura, à medida que desenvolve a vida da protagonista Malu, que define o destino dos seus personagens e o da sua própria jornada. Com sensibilidade e paixão, a escritora nos apresenta, além de uma história de amor, um pouco de filosofia, enfatizando a importância do autoconhecimento e de fazer aquilo que amamos. É divertido e leve, na mesma medida que filosófico e poético. 

Apesar de valorizar a narrativa, e o efeito metaliterário que torna o romance um pouco mais complexo, a autora utiliza alguns personagens estereotipados que me desagradam, entre eles, está Rebeca, a assistente de Malu, jovem, inexperiente, atrapalhada e até certo ponto histérica, com pouca profundidade na história.

Esse livro ele se divide em trinta capítulos com acréscimo de um epílogo, e é ideal para os leitores que gostam de um bom enredo e de refletir sobre os sentimentos.

E se?


A saudade do passado é inevitável, principalmente quando não estamos a viver o que sonhamos. Às vezes, por mais que estejamos felizes, nos deparamos de frente para o espelho ou estáticos na parada do ônibus, no estacionamento, nos perguntando “e se?”.

A verdade é que não podemos mudar o passado nem adivinhar o futuro e a cada escolha que fazemos definimos parte da nossa história, como num livro a cada “sim” ou a cada “não” determinamos o final ou início de um capítulo.

Jessica Florentino



Nem mesmo o tempo...


O dia estava quase amanhecendo, mas ela não descansou.

Há dias que não dormia, nem comia. 
Sua vida estava no automático. 
Sempre foi assim, doloroso e estático. Nunca admitiria! 
Primeiro ela pensou que a culpa fosse do seu cabelo, longo, negro, sedutor… Então o cortou, caindo naquele ditado de que “se corta o mal pela raiz”, no entanto, logo viu que aquilo de nada adiantaria. 
Depois notou que sempre se sentia sufocada com a cor do seu quarto, rosa enjoativo, então resolveu pintá-lo de azul de modo a trazer tranquilidade, o que até aconteceu por alguns momentos, porém não demorou a perceber que essa mudança não era capaz de acalmar os seus pensamentos, seus sentimentos, seus sofrimentos… 
Por fim, decidiu seguir o conselho dos mais velhos e se ocupar, afinal “mente vazia é oficina do diabo” e ocupou todo o seu dia, a tarde trabalhava, a noite estudava, finais de semana e feriados eram dedicados aos caprichos do seu namorado e pelas manhãs recuperava o sono. 
Assim ficou sem tempo, mas… aquele vazio… aquela dor… 
Não cessava nunca! 
Pouco importava o comprimento, a cor ou o tempo. 
Nem mesmo o tempo era capaz de conter tamanha ansiedade e tristeza. 

    

Por Jessica Florentino 

A garota de rosa


Fiquei observando de longe…
Ele falou algo e a garota de rosa saiu da mesa tendo a decência vergonhosa de pagar a sua parte da conta. Ela caminhou rápido sem aparentar se importar com os olhares, a sua volta, foi para longe, sentou-se na praça, o viu sair sem olhar para trás, como tantas vezes fizera.
Dor e humilhação a dominaram e ela chorou com pena de si mesma e do seu coração.
Desiludida e patética de rosa na praça.
Pranto e dor.
Dor de amor ou ausência dele.


(Meu diário 2 - pág. 17)